27 de nov. de 2013

a vida



Viver é uma peripécia. Um dever, um afazer, um prazer, um susto, uma cambalhota. 
Entre o ânimo e o desânimo, um entusiasmo ora doce, ora dinâmico e agressivo.
Viver não é cumprir nenhum destino, não é ser empurrado ou rasteirado pela sorte. 
Ou pelo azar, ou por Deus, que também tem a sua vida.
Viver é ter fome. Fome de tudo. 
De aventura e de amor, de sucesso e de comemoração de cada um dos dias que se podem partilhar com os outros.
Viver é não estar quieto, nem conformado, nem ficar ansiosamente à espera.
Viver é romper, rasgar, repetir com criatividade. 
A vida não é fácil, nem justa e não dá para comparar a nossa com a de ninguém.
De um dia para o outro ela muda, muda-nos, faz-nos ver e sentir o que não víamos nem 
sentíamos antes e, possivelmente, o que não veremos nem sentiremos mais tarde.
Viver é observar, fixar, transformar. Experimentar mudanças. E ensinar, acompanhar, aprendendo sempre. 
A vida é uma sala de aula onde todos somos professores, onde todos somos alunos.
Viver é sempre uma ocasião especial. Uma dádiva de nós para nós mesmos. 
Os milagres que nos acontecem têm sempre uma impressão digital. 
A vida é um espaço e um tempo maravilhoso mas não se contenta com a contemplação.
Ela exige reflexão. E exige soluções.
A vida é exigente porque é generosa. É dura porque é terna. É amarga porque é doce. 
É ela que nos coloca as perguntas, cabendo-nos a nós encontrar as respostas. 
Mas nada disso é um jogo. A vida é a mais séria das coisas divertidas.

                                                        JOAQUIM PESSOA, IN ‘ANO COMUM