15 de abr. de 2012

a metade

Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio. Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca. Porque metade de mim é o que eu grito, a outra metade é silêncio...
Que a música que ouço ao longe seja linda, ainda que triste (...) Porque metade de mim é partida, a outra metade é saudade...
Que as palavras que falo não sejam ouvidas como prece, nem repetidas com fervor. Apenas respeitadas como a única coisa que resta a uma mulher inundada de sentimentos. Porque metade de mim é o que ouço, a outra metade é o que calo...
Que a minha vontade de ir embora se transforme na calma e paz que mereço. Que a tensão que me corrói por dentro, seja um dia recompensada. Porque metade de mim é o que penso, a outra metade um vulcão...
Que o medo da solidão se afaste e o convívio comigo mesma se torne ao menos suportável. Que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso que me lembro ter dado na infância. Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade não sei...
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito. E, que o seu silêncio me fale cada vez mais. Porque metade de mim é abrigo, a outra metade é cansaço... Que a arte me aponte uma resposta mesmo que ela mesma não saiba. E, que ninguém a tente complicar, pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer. Porque metade de mim é platéia a outra metade é canção..
E que a minha loucura seja perdoada, porque metade de mim é amor e a outra metade, também...